Lagarto-de-água, um dos mais belos répteis de Portugal

O Lagarto-de-água (Lacerta schreiberi) pertence à família Lacertidae. É um lagarto, de tamanho médio e aspeto robusto, que pode atingir 12,5 cm de comprimento (cabeça+corpo). Possui uma longa cauda que pode medir até duas vezes o tamanho do corpo.
Este lagarto é facilmente identificado porque os machos adquirem uma tonalidade azul na garganta (que se estende muitas vezes por toda cabeça durante a época de reprodução), sendo esta característica menos evidente durante o Inverno (a garganta fica esbranquiçada)

O padrão de coloração dorsal nos machos é composto por tons esverdeados e amarelados, com um ponteado negro relativamente denso e uniforme e o ventre é amarelado com pequenas manchas negras.

No dorso das fêmeas notam-se grandes manchas negras, sobre um fundo de tonalidade esverdeada ou acastanhada.

Os juvenis têm nos flancos manchas amareladas ou esbranquiçadas, rodeadas de negro sob um fundo acastanhado que se estende por todo o dorso.

As fêmeas atingem tamanhos superiores aos dos machos, mas estas são menos robustas tanto na cabeça como no corpo.

O Lagarto-de-água é um endemismo ibérico (só ocorre na Península Ibérica), cujos principais núcleos populacionais ocupam o quadrante Noroeste da península, de influência climática marcadamente atlântica.

Ocorre em zonas relativamente húmidas, encontrando-se associado a habitats próximos de cursos de água com coberto vegetal denso e pode ser encontrado desde o nível do mar até 2.100 metros. Habita preferencialmente os vales agrícolas, típicos das áreas montanhosas do norte do país, em locais onde o estrato arbóreo das margens é dominado por espécies como o amieiro, o vidoeiro, o castanheiro e o carvalho-alvarinho. É uma espécie muito presente junto ao Rio Vez (mesmo na zona urbana) e pode também encontrar-se facilmente junto a cursos de água a maior altitude, nomeadamente na Travanca (Mezio). 
Os adultos preferem zonas húmidas e, muitas vezes, vivem no solo, onde escavam as suas tocas.

Os jovens, no entanto, escolhem zonas arbustivas nas quais é mais fácil encontrar alimento e passarem despercebidos.
São grandes trepadores, mesmo de troncos totalmente na vertical, de modo que, quando se sentem ameaçados, as árvores altas ou mesmo a água são o seu refúgio preferido, uma vez que conseguem ficar submersos durante vários minutos.

A atividade reprodutora desta espécie decorre entre a primavera e meados do verão. Os acasalamentos podem observar-se desde abril até julho e as posturas são efetuadas em locais expostos e desprovidos de vegetação, geralmente entre maio e julho. O tamanho da postura varia entre 6-17 ovos, estando, em geral, dependente do comprimento das fêmeas. A eclosão ocorre após cerca de 2-3 meses de incubação. A maturidade sexual é atingida com um comprimento cabeça-corpo de 86-90 mm e com idades compreendidas entre os 3 anos de idade nos machos e os 4 a 5 anos nas fêmeas.
A longevidade máxima detetada, em Portugal, é de 8 anos.

A sua alimentação é baseada em pequenos invertebrados (insetos e aracnídeos de preferência) em especial moscas, mosquitos, gafanhotos aranhas e escaravelhos. Ocasionalmente, inclui também frutos silvestres.

As ameaças a esta espécie são várias:
A regularização dos sistemas hídricos – nomeadamente através da transformação dos cursos de água em valas artificiais com a uniformização do substrato, no intuito de melhorar o escoamento hídrico;
A construção de barragens que normalmente implica a submersão de grandes áreas de habitat a montante, criando graves descontinuidades entre as populações a montante e a jusante da barragem;
A poluição resultante de descargas de efluentes não tratados de origem industrial, urbana e de unidades de pecuária, a par com fontes de poluição difusa devidas à intensificação da utilização de pesticidas e fertilizantes na agricultura, que cria situações de elevada eutrofização do meio, com a consequente perda da qualidade da água;
A destruição da vegetação ripícola, nomeadamente associada a ações de limpeza, aproveitamento de terrenos para fins agropastoris ou plantações florestais com espécies de rápido crescimento – que afeta obviamente a presença da espécie, sendo uma séria ameaça à sua preservação pois as margens das linhas de água constituem o habitat preferencial do Lagarto-de-água.

É considerada uma espécie quase ameaçada em toda a Espanha e em perigo de extinção na Andaluzia.

Para que continue a existir em Portugal é nossa obrigação proteger a continuidade da espécie, respeitando o seu habitat natural.

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